Jerry

 

Ele apareceu de noite

besouros, terra e carne podre.

Ficou no canto por dias, de cabeça baixa

não levantou sequer um dedo quebrado.

Depois semanas arrastando os pés, comendo carne

e cérebro da vaca.

Minha mãe achou que ele fosse inofensivo

meu irmão não prestou atenção.

Quem dera eu soubesse que não haveria meio-termo.

 

Ao final do ano, cinco minutos atrás

hora de carne humana.

Me mordeu no pescoço

e aqui estou eu.

O luto é inútil e me resta pouco tempo.

Por que ele voltou?

Eu logo o joguei no chão

e lá está ele, agitando os braços.

Boca vermelho-sangue,

pupilas mais brancas que sua pele.

 

Não havia luz em seus olhos

assim como logo não haverá nos meus.

Nenhuma compaixão

a não ser por si mesmo.

Talvez uma alma periclitante

como logo eu serei.